Algumas pessoas afirmam categoricamente que é a vida que imita a arte. Outras, em contrapartida, dizem o oposto, que é a arte que imita a vida. Com um ponto de vista mais pênsil para o lado lógico da análise, a contrapartida é muito mais significativa, pois é irrefutável que quem cria a programação é o mesmo que vive a vida, que constrói relações de vivência que servem de inspiração para a ficção, e – ainda que a ficção seja mera fantasia e traga alertas sobre a dita ‘semelhança ser mera coincidência’ – o produto da criação ficcional não é mais que a passagem para a arte de tudo que é das relações humanas. Uma cena de violência, de preconceito, ou de qualquer outro tipo, é só o reflexo criativo da observação das ocorrências sociais próprias ou alheias (da/na vida do escritor).
Outra pergunta relevante é: a TV educa ou deseduca?
http://fotolog.terra.com.br/dodocaricatura:23
Sabe-se que o foco-mor da programação televisiva não é a Educação, mas deveria correr para esse lado e colaborar com a escola nessa árdua tarefa. O que se tem feito é exatamente o contrário. A TV é responsável por propagar a informação, formar opinião, elucidar os acontecimentos, expor os fatos, entre outras boas-ações. O contraditório disso tudo é que a visão comercial do investimento da criação de um canal de televisão, pomposo como é, suplanta a nobreza do ‘formar-opinião’ e trilha outros caminhos que não o que leva à efetiva educação. É o entretenimento pelo puro entretenimento, muito mais imediatistamente lucrativo, e se reserva espaço apenas a efêmeros instantes informativo-educativos que, paradoxalmente, são veiculados em horários em que muitos estão em stand-by, a madrugada.
Se a arte imita a vida, a essa parte da vida real a arte não tem dado o devido valor. Se quem cria a televisão é o homem e este privilegia a diversão em vez da formação, é porque não lhe é importante. Se a arte é a imitação da vida, a cópia está muito focada nas mazelas da original. Não se costumam reproduzir as virtudes. E, quando isso é feito, há sempre um tom de ironia, depreciação: o honesto é o estulto; o estudioso é o nerd, o patinho feio; o homem respeitador é um quadradão e, se ele respeita a castidade e é adepto da moral e dos bons-costumes, aí sim: é um atrasado.
O papel comunicador da arte na mídia é indefinido. Nenhuma das artes tem como lema os valores, a educação, essencialmente. Seja verbal ou não-verbal, toda arte usa a comunicação como mola propulsora do seu objetivo; algumas delas usam a fala como veículo da informação. Mas, como está a fala na TV e rádio? A maneira como está só confirma a idéia de que “a arte imita a vida”. Nossos radialistas são medíocres. E poucos se destacam, não pelo conjunto da obra, mas por um ou outro fator. A locução da maioria beira as raias do ridículo, quando não ‘deprimente’. E da música nela tocadas nem se fala: a cada dia está pior; e a televisão...
http://krollcartuns.blogspot.com/2009/05/porcarias-na-tv.html
As nossas novelas não são mais do que histórias do dia-a-dia em película, em mídia digital. Ações, paisagens, caos, riquezas, mazelas e vivências estão lá assim como estão cá. Preocupantemente iguais. Tanto é que muita gente confunde de onde vem o quê, o que é realidade, o que é dramaturgia. Mais preocupantemente, com a linguagem ocorre o mesmo. E as pessoas, desatinadas de tudo isso e com um senso de correção de fala quase ausente, reproduzem aquilo a que assistem, e se a escola lhes deu pouco discernimento e educou à base do básico, agora como telespectadores desaprendem porque veem a verdade da TV diluir o pouco que aprenderam e justificam: “eu vi/ouvi na TV”.
O que fazer? Talvez com uma pitada de radicalismo em massa, fosse melhor acatar o conselho da banda Red Hot Chilli Peppers, expresso na música de título ‘Throw away your television’, ou seja, jogue fora sua televisão. Mas não, o ideal é melhorar a escola de base, a programação de nossa TV e incluir no objetivo da Arte o intento de educar ou – no mínimo – de não deseducar.