segunda-feira, 18 de maio de 2009

Os profissionais dos anúncios, as placas populares, a ortografia e a sintaxe do português.

Joel Carlos S. Santos / 18.05.09.

O tempo passa, o tempo voa e muita coisa se mantém estagnada. Já outras coisas regridem a cada dia, como é o caso da língua(gem), especialmente observada e analisada aqui com foco na publicidade das placas, faixas, letreiros e outdoors, nos níveis popular e profissional. A Didática, a Metodologia, as Psicologias da Educação e do ensino do português, entre outras disciplinas baseadas em técnicas que visam a otimizar o contato do aluno com o conhecimento, coadunam com o mesmo objetivo: ensinar mais eficazmente a língua materna, em especial. Porém, ao pôr os olhos nos textos desses tipos de propaganda, o que parece é que todo esforço foi e está sendo em vão, pelo menos no tocante à escrita e (consequente e pressupostamente) à fala, dado a não se poder conceber que o ‘mal-escritor’ seja capaz de falar bem e vice-versa.

Ao longo do tempo, teorias neolinguísticas surgiram para desfazer conceitos da Gramática Normativa Tradicional, tidos como arcaicos. É certo que a evolução tem que ser o pressuposto da educação de base e, principalmente, da relação entre ela e o desenvolvimento da linguagem no aluno. Entretanto, após muita teoria idealista que ainda hoje faz barulho, proveram-se ínfimos resultados positivos. Além da troca de farpas entre gramáticos e linguistas e do intento de ensinar a seu modo, que cada uma das ciências defende, o que fica é o registro escrito da língua com pouco e – em casos especialmente críticos – sem nenhum critério, sendo divulgado de forma indiscriminada.

Nas ruas, o reflexo de uma educação de base deficiente, inócua e que passa despercebida pela iniciativa pública é notadamente preocupante. Nessa referência se ressalta a prática escolar primária embora não se despreze a influência da secundária (e assim por diante) como construtora do que se tem por “poder” de comunicação. Está que provém da linguagem, que é imanente e inerente ao homem, porém não-autoconstrutiva.

Muitos teóricos afirmam que a excelência em linguagem prescinde das normas gramaticais e ampliam dizendo que “o importante é comunicar” ainda que a comunicação advenha de uma fala livre, desregrada, sem um controle previdente quanto ao resultado da relação raciocínio/modo de externação. É ate nobre pensar que o falante tem que ser livre uma vez que a língua assim o é. Em que pesa a aparência nobre, é aí onde reside o problema. Essa tal liberdade pode gerar o caos linguístico e ele fazer com que o raciocínio do comunicador se paute no pseudo-senso de posse da sua própria linguagem, o que pode resultar em produções gráficas como:


De todos os males, o menor. Como atenuante ao problema da maioria dos escritores, a expressão “(seja(m)) bem-vindo(s)” é – na maioria das vezes – mal-escrita até por quem deveria escrever bem. Por isso, é compreensível que os meros mortais a escrevam como feito na imagem anterior. Vale registrar que poucas são as cidades que contratam empresas letreiristas que ponham, na entrada de sua área urbana, tal saudação flexionada e hifenada apropriadamente; além da correta regência que segue. No caso da foto acima, podemos enumerar problemas, que refletem brandamente a base cognitiva e o nível linguístico do construtor da peça gráfica. São três os erros: o primeiro e mais brando – a ausência da consoante nasal no particípio do verbo ‘vir’. O que se pode especular sobre isso é que pode ter havido displicência no processo de escritura da palavra ou, mais agravantemente, houve o uso do processo de analogia, frequentemente usado de maneira inconsciente por crianças na aquisição da linguagem. O segundo e mais metódico – diz respeito ao uso do hífen e requer um conhecimento teórico-prático-funcional que, pode-se prever, o letreirista não tinha ao escrever o texto (ou transcrever, visto que, às vezes, tal profissional não o produz). Aí se constitui o problema da educação de base e onde se anula a teoria da comunicação pela comunicação. Se aquilo que se comunica precisa ser registrado, ou seja, grafado para a posteridade, na escrita também se fará aplicar a lógica linguista? A maioria esmagadora das línguas não é ágrafe, e isso dá ao registro gráfico um tom de relevância maior do que o que se tem dado. O terceiro, último e não tão brando, devido à instância a que chegou a inadequação, é o erro de ortografia contido no verbo da frase. Dizer ou escrever ‘seijam’ é o oposto de ‘quejo’; ou seja, o fenômeno ocorrido no verbo do anúncio vem na contramão do que a linguagem tem “permitido”. No dia-a-dia, muitas vezes, a liberdade permite a fala fluir para aquilo que vocalmente é mais fácil. Um ditongo apresenta um trabalho mais apurado do trato vocal, dos articuladores; e a noção de semivocalidade compete com a vogal na produção sonora do encontro e define na língua moderna o desaparecimento do som débil, isto é, fraco, sem independência sonora (por natureza da construção). Daí a se compreender que a linguagem dinâmica associada a fatores como a agilidade da fala e da comunicação e a despreocupação com método, estratégia ou controle, que resulta da liberdade, que lhe é intrínseca, gera mudanças e com elas, problemas de toda ordem. Assim, no exemplo em que há o surgimento do “i” onde não havia, o aparecimento contrasta com um fenômeno vocálico comum, a supressão: o vocábulo ‘louco’ vira ‘loco /ô/’, e ‘peixe’ é na linguagem dinâmica quotidiana convertido a ‘pexe /ê/’. O erro do letreirista não se justifica como sendo uma possível displicência, mas uma representação gráfica daquilo que ele ouve/ouviu no seu cotidiano; tendo como agravante, a ausência de conhecimento semântico-estrutural básico da palavra que usa.

Os anúncios populares em língua portuguesa são muito ruins; os profissionais também. Raros os que não trazem problemas. De sintaxe, de ortografia, de articulação, de criatividade, entre outros, eles sempre aparecem. Um simples “vendem-se casas”, uma composição de palavras, uma crase ou um pronome configuram-se num entrevero entre escritor e placas publicitárias. A fealdade da grafia, a falta de criatividade e zelo dos profissionais responsáveis por produzi-las, o descomprometimento total dos populares e a presença excessiva dessas peças pelas ruas da cidade implicam um problema grave: a poluição visual. Apesar disso, o que preocupa mais é o processo de deseducação linguística que tais placas imprimem na cabeça do “leitor” e se põem na contramão, até mesmo, dos conceitos linguistas já que algumas dificultam a comunicação. A ortografia e a sintaxe não são a solução para o problema do trânsito da informação através da fala e da escrita. Mas, uma coisa é certa: sem ela, a fluência da comunicação fica comprometida e – quer queira quer não – é muito mais bonito falar e escrever bem. É isso!

Um comentário:

  1. Como todo falante da língua perco horas tentando lembrar como se escreve tal palavra, se com "esse" ou com "xis", com "zê" ou com "esse", etc. Já fui dono de uma memória fotográfica privilegiada e como gosto muito de ler sempre tive muita facilidade de escrever e escrever corretamente as palavras.No entanto, se penso técnicamente o que escrever o texto não sai. Mas como todo mundo a dúvida nos faz escrever de forma errada e é a regra geral para todos, escrever é uma arte e quanto mais se pratica, melhor se faz a cada vez que se pratica. Convém ter ao alcance das mãos uma boa gramatica ou uma fonte quanquer de pesquisa ou alguém mais fluente que nós. No entanto, o texto se refere a um erro que se exercita através da leitura visual de faixas e cartazes, produzidas pelas propagandas de rua, das frases escritas em todos os lugares por vício, por se falar mal o português, por se fazer pouco uso da leitura, por ouvir e praticar a fala coloquial, a fala regional, a fala televisiva. A repetição das palavras erradas por quaquer meio de transmissão, ela passa a ser a usual e portanto dada como certa e como não temos dúvida nenhuma sobre elas, porque estão arraigadas no nosso inconsciente coletivo, já faz parte de nosso imaginário coletivo, por isso a erramos. Quando temos dúvidas, recorremos a algum tipo de consulta e então acertamos. O problema é escrever sem pensar e não pensar sobre as principais dificuldades que temos na escrita. A certeza no português pode estar imbricado de dúvidas. O que fazer? a escola do bairro pode aproveitar todos esse material rico e profícuo das ruas de nossa cidade e trabalhar com sua gente muiúda que está na escola para aprender. E é muito singular, importante e proveitoso aprender com nossos erros. Este ensinamento é pra vida toda. O que passar disso, só a reforma gramatical nos confundirá mais ainda, quando então devemos persistir em ser um linguísta atualizado, falar e escrever fluentemente, para não influenciar mal visualmente nem verbalmente nosso receptor.

    Inacio Loiola

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