terça-feira, 11 de setembro de 2012

O enigma da questão nº. 3.


O enigma da questão nº. 3.
Cinform, 18 a 24 de junho de 2012, Ano XXX, Edição 1523.
De Olho No Concurso: PORTUGUÊS, (p.07).

 
3 - (C.MEN./Rio) “Tudo pode afetar a nossa vida”.
Das alterações processadas na passagem acima, a que
contraria a norma culta, quanto à concordância verbal, é:
 

a)        Todas as coisas parece afetarem a nossa vida.
b)       Todas as coisas parece que afetam a nossa vida.
c)        Todas as coisas parecem que afetam a nossa vida.
d)       As coisas e as pessoas, tudo parece afetar a nossa vida.
e)        Tudo, as coisas e as pessoas, parece afetar a nossa vida.


Texto do Prof. Esp. Joel Carlos Santana Santos,
de Língua Portuguesa e Espanhola.
Ah, o português, o bom e velho português! Uma verdadeira armadilha.
...Algumas questões elaboradas e postas em provas de concursos são um mistério (!), como diria D. Milu sobre as histórias de Santana do Agreste. O que me preocupa, na verdade, é que tal mistério tem rondado a vida de alunos e, ainda mais preocupantemente, a de professores, em todos os níveis, do Ensino Fundamental à Livre Docência. Ensinar a língua materna é um sério exercício de paciência, que deve ser embasado na dedicação à profissão de professor, no preparo adequado e na precisão da práxis com o conhecimento.
Hummm... Mas, deixemos de “lero-lero” e atenção à Questão nº. 3 (três) do Cinform[1]: ela é uma das questões que parecem[2] que estão à beira do precipício que leva os desavisados a caírem no abismo gramatical que tanto vitima concurseiros por todo o país. O que se deve fazer quanto a isso e para responder questões com mais efetividade é apreciar com muito cuidado os enunciados, levando em conta as palavras usadas e os assuntos possivelmente relacionados a elas, e avaliar o que realmente se pede.
Tudo pode afetar a nossa vida”, inclusive a gramática. Concurseiros ficam a anos-luz de distância das vagas reservadas aos aprovados, por causa de “situações” assim. A frase entre aspas foi usada no enunciado da questão citada no periódico, e o que se pedia dizia respeito às alterações que foram feitas nas múltiplas escolhas e especificamente à[3] que, dentre as quais, contraria a Norma Culta no que tange à concordância.
Para direcionar resposta justa à “problemática” apresentada, vou dividir o procedimento em alguns passos informativos[4]:
1.      A frase tem seis palavras: 1. Pron. indefinido (núcleo do sujeito) / 2. Verbo (aux.) + 3. Verbo principal (infinitivo) / 4. Art. definido / 5. Poss. adjetivo / 6. Substantivo (núcleo do objeto).
2.      Dentre elas, há apenas uma que é invariável: Tudo.
3.      A composição da frase se dá pela presença de 2 (dois) verbos significativos, ‘parecer[5]’, no Presente do Indicativo, e ‘afetar’, no infinitivo.
4.      As orações dependentes.
5.      ...
...Vamos lá.
O que se pede no texto do enunciado é o quesito correto dentre as alternativas alteradas quando o foco é a Concordância Verbal, seguindo aquilo que rege a norma vigente. Antes de tudo, deve-se notar que mudanças vocabulares foram feitas. O pronome ‘tudo’ deu lugar à expressão ‘todas as coisas’ nos itens ‘A’, ‘B’ e ‘C’ a fim de imprimir plural na oração; e a expressão ‘as coisas e as pessoas’ foi acrescida, apositivamente, à palavra ‘tudo’ em ‘D’ e ‘E’. Algumas posições foram redefinidas, os períodos se alternam entre reduzidos e desenvolvidos e o verbo auxiliar poder foi substituído por parecer, que respeitam regras ligeiramente distintas entre si. E é aí em que reside o problema: verbos que respeitam regras distintas. No caso das posições do aposto “as coisas e as pessoas”, nas últimas alternativas, não há problema. Tanto faz dizer: 1) As coisas e as pessoas, tudo parece afetar a nossa vida ou 2) Tudo, as coisas e as pessoas, parece afetar a nossa vida. Em ambas as sentenças, o verbo está sendo conjugado pelo pronome indefinido. E, estando certo de que este é invariável, é óbvio que ele só admite singular na concordância com o verbo.
Na contrapartida, o verbo ‘parecer’ admite múltiplos vieses quanto à aplicação do número[6] na composição das Orações Subordinadas[7], as substantivas Reduzidas de infinitivo, por exemplo, ou seja, quando há dois verbos (ele e outro qualquer, para um único sujeito no plural) e é possível alternar a flexão entre um e outro; caso contrário, o verbo concorda com o número do substantivo que exercer o papel de sujeito...
Viés I: plural + singular.
a)      O Brasil e a França parecem relacionar-se bem no mercado internacional’.
Viés II: singular + plural.
a)      O Brasil e a França parece relacionarem-se bem no mercado internacional’;
b)      O Brasil e a França parece que se relacionam bem no mercado internacional’.
Viés III: plural + plural.
a)      O Brasil e a França parecem que se relacionam bem no mercado internacional’.
Os pormenores[8] do verbo PARECER...
Se eu tiver que nadar apenas em piscina rasa, prefiro deixar de ser nadador profissional”. Para mergulharmos fundo “nesse problema” (a piscina do verbo parecer), vamos encher o pulmão com ar “gramatical”, prender a respiração e suportar a pressão para ir mais além do que de costume.
O verbo atrás da lupa requer um pouco mais de atenção (quanto aos “traços” existentes nele. E eles são muitos...) e a ajuda de declarações como as citadas a seguir.
Um.
Os fenômenos da transitividade e da regência: eles direcionam significados e interpretações, obrigam a inclusão de determinadas palavras, definem categorias gramaticais e organizam a estrutura.
Dois.
O verbo ‘parecer’ pode ser tão-somente de ligação; o que significa dizer que liga e não tem independência. Fato que se extrai do entendimento que se infere dos ditos ‘o garoto está feliz’ ou apenas de ‘garoto feliz’. Estar é o principal elemento de ligação em predicados nominais, como parecer em ‘o garoto parece feliz’. O que não ocorre com o período: ‘o engenheiro parece construir um estádio’; nele, o núcleo indica a prática de uma ação[9] suspeitosa, uma suposição vincula à prática de uma ação; não, um estado (nem do sujeito nem do objeto). Daí a não ter sentido minimamente preciso dizer ‘engenheiro construir um estádio’, porque o ato solicita a indicação de tempo, número e pessoa, além voz e modo. Com o garoto, a despeito dessas indicações[10], no mínimo você vai supor que ele ficou, tornou-se, era ou estava feliz, que era o estado dele. Do contrário, quando nenhuma suposição semelhante é viável, o verbo não é de ligação; e sim, significativo, indicativo de prática de ação (seja física ou psíquica).
Três.
Restam-lhe as opções relativas à função transitiva dos verbos (direto, direto preposicionado ou indireto), à bitransitiva, à transpredicativa, à intransitiva; que faz com que todos eles sejam significativos, e ainda os pronominais.
...Entre outras coisas!
Tudo isso influencia para o bem do aprendizado do exposto e contribui para a boa compreensão da estrutura da frase e para a correta aplicação das infindáveis regras do idioma. As várias sentenças abaixo vão nos ajudar a entender o verbo em questão e a chegar à conclusão[11] que se pretende.
Comecemos:
Leia atentamente as frases...
                   I.            Suas ações parecem com as de Pedro.
                II.            Suas falas parecem verdade.
             III.            Ana e João parecem felizes.
             IV.            Eles se parecem com os pais.
                V.            As coisas parecem umas com as outras.
             VI.            As coisas parecem (...) e elas afetam a nossa vida.
          VII.            O que parece afetar a nossa vida?
       VIII.            Sabemos que precisamos de mais dedicação nos estudos.
As frases II e III apresentam ideias bem próximas. Apesar de as palavras verdade (subs.) e felizes (adj.) serem de classes gramaticais diferentes, ambas representam um qualificador, o predicativo do sujeito, e seus verbos são copulativos[12]. Verdade, naquele caso, substitui verdadeiras (adj.). Compreensivamente, isso resultaria em ‘falas verdadeiras/Ana e João felizes’. Indo de encontro a essa ideia, vêm os exemplos I, IV e V. Neles os verbos têm noção aproximada à do verbo confundir-se (que é significativo); como efeito, parecer é transitivo indireto, em: ‘Suas ações parecem com as de Pedro’ e, às vezes, surge como pronominal, em: ‘Eles se parecem com os pais[13]’; ou bitransitivo: em, ‘As coisas parecem umas com as outras’.
A opção VII é interrogativa, propositalmente, uma vez que é isto que direcionará a captação da impressão de alguns enfoques[14] no argumento. Composta por dois núcleos verbais, um deles é o verbo em voga, que desenvolve a polêmica. Auxiliar por essência, ele se assemelha em compreensão estrutural ao vocábulo ‘poder’, porém traz alguns detalhes diferenciadores, particulares. Se houver a pretensão de responder as perguntas: ‘o que parece afetar a nossa vida?’ ou ‘o que afeta a nossa vida?’ – a resposta será a mesma levando em consideração o conteúdo da prova, ou seja: todas as coisas (ou tudo, as coisas e as pessoas). Apure-se, pois, a verdade do encontrado até aqui, acrescentando-se os questionamentos: O que parece? Parece o quê? O que afeta? Afeta o quê? Lógico é perceber a que cada resposta encontrada se refere; e não é demais repetir a sentença de origem: “Tudo pode[15] afetar a nossa vida”. A opção sugerida pela frase VI também é propositada, ela é Coordenativa Aditiva[16], cujo conteúdo pode ser transformado de forma mais complexa. As falas “‘As coisas parecem (fazer algo)e ‘elas afetam a nossa vida’” podem ser ligadas uma à outra de maneira a tornar o primeiro verbo dependente do segundo. Pergunte-se: o que parece? Resposta: as coisas. E, o que afeta a nossa vida? Resposta: também elas (as coisas). Já a pergunta: ‘parece o quê?’, periga não ter resposta dado o tom pseudo-intransitivo da declaração. Com isso, a conclusão rasa e incipiente a que qualquer aluno facilmente pode chegar é: os dois verbos têm o mesmo sujeito. Pronto e ponto!
Caso realmente haja a necessidade da composição subordinativa, como a feita nas proposições da prova da C.MEN./Rio, que findou em “Todas as coisas parecem que afetam a nossa vida (gabarito C)”, a ela não poderia ser atribuído erro, pois não há. A oração aqui se mostra constituída de uma estrutura subordinada (objetiva) cujo verbo da principal necessita de trânsito e cujo significado denota ação praticada; e não, um estado. Entenda-se, pois, que, quando interpelado ao locutor de uma frase assim, “todas as coisas parecem o quê?”, elas dirão: “ISSO!”, que representam sinonimamente a “coisa que parece”; essa coisa é o ato resultante de afetar. Daí a necessidade do TRÂNSITO verbal, ou seja, do “movimento” do significado do núcleo da oração principal para a subordinada. E, se as orações são ligadas por conjunção, esta é classificada como integrante, une os períodos e os compõe. Quando não, as orações são reduzidas e os verbos das subordinadas estão no gerúndio ou no infinitivo (flexionável). Quando os sujeitos são diferentes, eles precisam estar explícitos para orientar as flexões em ambos os núcleos, nas desenvolvidas e reduzidas; quando não, o segundo fica invariável nas reduzidas. E no caso elucidado há detalhes: a possibilidade de alternar a concordância ora com um ora com outro.
Veja:
(Desenvolvida/mesmo sujeito) todas as coisas parecem que afetam a nossa vida.
(Reduzida/mesmo sujeito) todas as coisas parecem afetar a nossa vida. / todas as coisas parece afetarem a nossa vida.
A alternativa para o gabarito indicava a sentença da opção C, e a justificativa para a resposta se baseava na ideia de que se tratava de uma Substantiva Subjetiva, dizendo que: “O verbo ‘parecer’ está indevidamente no plural, pois a oração seguinte é o sujeito dele. O correto é: todas as coisas parece que afetam a nossa vida”. O que me parece não condizer com a “verdade” gramatical!
Para ilustrar a opinião de que não há erro no quesito escolhido e em nenhum outro, o que enseja a anulação da questão, serão apresentadas duas sentenças essencialmente subjetivas e que não deixarão dúvidas de que a proposição C do gabarito não satisfaz.
Veja:
(período simples) Apenas a verdade convém.
(período composto por subordinação) Convém que se diga apenas a verdade.
ou
(período simples) As palavras duras ferem.
(período composto por subordinação) Fere proferirem-se palavras duras.
            Nos exemplos compostos, as orações em itálico compreendem o sujeito do verbo da oração principal, o que nos leva a classificá-las como Orações Subordinadas Substantivas Subjetivas, e tais sujeitos estão refletidos inferidamente nos dos respectivos períodos simples.
            É preciso, por força da necessidade e para não se alongar muito, fechar toda essa ponderação. E, para não restarem dúvidas, façam-se as várias perguntas que foram indicadas para direcionar o entendimento das estruturas e se tente descobrir o sujeito das orações:
1)      Apenas a verdade convém. e
2)      Convém que se diga apenas a verdade.
O que convém?
3)      As palavras duras ferem. e
4)      Fere proferirem-se palavras duras.
O que fere?
5)      Todas as coisas parecem que afetam a nossa vida.
O que parece? O que afeta? Parece o quê?
            Se você já estudou algum dia na vida (ou estuda) os Termos da Oração[17] e aprendeu o básico deste assunto, sabe que nenhuma das respostas do ponto nº. 5 determina que a oração subordinada ‘que afetam a nossa vida’ é o sujeito de ‘parecer’.
            É isso aí. Olho na frase VIII e isso é tudo!


[1] Periódico veiculado no estado de Sergipe.
[2] Atenção à concordância desse verbo. Ver: concordância verbal, numa boa gramática.
[3] Muitos gramáticos condenam essa crase (embora ela me pareça coerente).
[4] Cada estudante deve selecionar os passos que achar que convier à questão, levando em conta (é claro!) a capacidade desenvolvida ao longo dos estudos. E é ela, por certo, que vai aproximá-lo da dita precisão, quanto à resposta CERTA.
[5] Considera-se aqui o definido com base na estrutura do exemplo para o desenvolvimento da explicação embora tal classificação não seja única para o vocábulo, como veremos ao longo do texto.
[6] Fenômeno gramatical: plural e singular.
[7] Ver: Orações Subordinadas, numa boa gramática.
[8] Na verdade, “detalhes” são comuns à boa parte das regras. Sempre há de haver exceções e regras especiais quando o assunto é o desenvolvimento da linguagem e é a isso que há de se atinar todo bom estudante.
[9] A ideia preceitua a defesa de que todo verbo de ação é significativo ou nocional.
[10] Na declaração, ‘garoto feliz’, há número (singular).
[11] Qual o problema da questão.
[12] Também de ligação.
[13] O efeito do pronome reflete e reforça a ideia de reciprocidade.
[14] A que ou a quem as ações se referem.
[15] É bom lembrar que esse verbo é substituído após as alterações.
[16] Ver: Orações Coordenadas, numa boa gramática.
[17] Ver assunto numa boa gramática.

Dez dicas para tornar o trânsito mais seguro nas cidades.


Dez dicas para tornar o trânsito mais seguro nas cidades.

SMTT-Itabaiana, Carlos Santos. 10/06/10.



Nas estradas, ruas e avenidas de todo o país, os acidentes de trânsito são constantes. Carros, motos e cargueiros matam mais que as guerras civis. São milhares de mortos a cada ano só nas estradas do Brasil. Grande parte das causas dessa mortandade se baseia em três fatores básicos: (1) a educação para o trânsito ainda é uma barreira quase que intransponível. Nossos motoristas desconhecem as mais triviais normas de circulação e de segurança; (2) o despreparo e a imprudência, esses dois se conjugam em um só quando nos deparamos com condutores que saem das autoescolas para as ruas rasos de experiência e se enveredam pelo trânsito. Certo é que o maior aprendizado vem com a prática, mas – antes mesmo de adquiri-la – muitos já se arriscam experimentando altas velocidades e ultrapassagens perigosas. E é aí que despreparo e imprudência se tornam primos-irmãos e geram caos e mortes; (3) este último, o desrespeito às normas, soa mais brando, porém não o é. O descumprimento de regras também gera caos. O trânsito de automóveis, ciclistas e pedestres certamente se tornaria mais harmonioso se se seguissem as mais básicas normas de segurança e circulação.

Aí vão algumas:
           

I – Uso de cinto de segurança, capacete e calçados adequados.

Antes mesmo de ser uma obrigação prevista na lei (O C.T.B., Código de Trânsito Brasileiro), é a garantia de segurança e da integridade física de condutores e passageiros. Conduzir um veículo com cinto de segurança atado em todos os que nele embarcaram reduz em cerca de 80% as lesões graves e mortes, em caso de acidente; usar calçado adequado, seja em motocicletas seja em qualquer veículo, evita que o condutor se atrapalhe na sua condução devido a solturas repentinas, à falta de aderência aos pés e/ou a enganchamentos desses calçados em pedais e apoiadores, distraindo-se e – consequentemente – causando acidentes. Os acidentes com motos, geralmente fatais devido à vulnerabilidade natural desse tipo de veículo, geram índices alarmantes em todo o mundo. Lesões na cabeça e na face são a maior causa de invalidez e óbitos nas ruas das cidades, além também de engrossar as contas dos serviços públicos de saúde e de previdência social, com gastos com hospitalizações e aposentadorias em idade produtiva, respectivamente. Usar o capacete deveria ser encarado pelos pilotos mais como autodefesa e prevenção, que como lei. Porém, não é o que se vê na prática.
           

II – Não estacionar em local proibido ou fazer paradas inadequadas.

Pouca gente considera importante estacionar e parar corretamente. As placas de pare, proibido estacionar, as faixas amarelas e os refúgios são ignorados a cada instante. E a justificativa: “Foi rapidinho, só um minutinho”. O espaço para estacionamento regulamentado é um problema nas pequenas e grandes cidades. Com o crescimento das frotas e os preços altos dos estacionamentos rotativos e a carência deles em algumas cidades, encontrar vaga se tornou um desafio. O que fazer? A solução que a maioria dos motoristas encontra é pôr o carro em qualquer lugar. Ignorar a lei nesse caso gera sanções como multa, reboque do automóvel e pontos na carteira. Mas, o que parece (para muita gente) é que isso é exagero dos órgãos fiscalizadores. Não é! Um carro estacionado numa calçada obriga o pedestre a ir para a pista, e na disputa com carros e motos, quem sempre perde é o pedestre. Atropelamentos são constantes até mesmo sobre calçadas; por exemplo, numa rua estreita e com proibição de parada e estacionamento, alguém esgueira seu carro entre a pista e a calçada para passar por outro veículo mal-estacionado e se depara com um pedestre. Quem perde a disputa por espaço? A regulação de estacionamento leva em consideração a estrutura da via e principalmente o fluxo que ela permite, primando pela segurança. Há também a ótica da comodidade e da necessidade: vaga para idoso e deficiente é vaga para quem tem dificuldades de locomoção, por isso elas são maiores e mais próximas a acessos, portas e entradas/saídas. Se você não tem direito a ocupar tais vagas, não o faça! Onde, então, posso estacionar ou parar? Parar, apenas pelo tempo necessário a embarque e desembarque, isso é permitido em locais onde estacionar é proibido. Em cruzamentos e vias de visibilidade ruim, pode-se parar apenas para se certificar de passagem livre. Em vias de fluxo rápido ou em que não haja acostamento, parar só seguindo o fluxo. Já no ato de estacionar, o tempo é indefinido. É quando você pára para “guardar” o carro. Nunca o faça em esquinas, calçadas, passeios, em frente a hidrantes, rampas de acesso ou sobre faixas de pedestre e refúgios. Isso dificulta a circulação e pode trazer riscos de acidente.
     

III – Não falar ao celular.

Muitos dos equipamentos eletrônicos que as pessoas usam no dia-a-dia para a comunicação e o entretenimento podem contribuir para causar acidentes no trânsito, o celular é um deles. Falar ao celular ou ver vídeo em DVDs enquanto dirige é uma das mais modernas causas de acidente, e é assunto preocupante. A distração produzida por uma conversa ao telefone ou pela atenção dada a uma cena intrigante no DVD tem figurado na razão pela qual muita gente tem mutilado, matado e morrido no trânsito. O atropelamento e o capotamento por perda do controle do veículo são a marca registrada da desatenção. As normas de trânsito alertam para tais perigos e para as punições cabíveis, mas pouca gente se contém em falar superfluidades ao celular enquanto está na direção. São tantos assuntos tão urgentes, que não podem tomar alguns segundos estacionado para falar ao celular e em segurança.
           

IV - Não passar em sinal vermelho.

Não há muito que se falar sobre essa infração. Ter o sinal fechado para você significa permitir que outros trafeguem livremente em vias transversais. Isso significa dizer que, se você desobedece a sinalização e segue, o risco de matar ou morrer é iminente. Em medida metafórica, é como se você puxasse uma arma para alguém e atirasse, assumindo o risco de matar; no caso do trânsito, muitas vezes o projétil ricocheteia e a vítima pode ser você mesmo. Como caso à parte, por medida de segurança, criou-se a cultura de que após as 23h não é preciso parar em semáforos quando indicarem fechamento. Entretanto, há que se considerar que muita gente faz isso irresponsavelmente. As pessoas podem fazer isso sem lembrar que o sinal está aberto para o outro, que vai passar, e a ação baseada em tal cultura interpretada erroneamente causará tragédias. O correto seria reduzir, observar o fluxo e, não havendo perigo de colisão, aí sim seguir viagem.
 

V - Não exceder o número de passageiros do veículo.

(...) é como coração de mãe, sempre cabe mais um! Automotores não são coração de mãe nem a casa da mãe Joana. É preciso considerar os perigos da superlotação. Nos noticiários, são reportadas muitas catástrofes relativas a esse problema; com mais freqüência, embarcações e aeronaves superlotadas são assunto por terem naufragado ou tombado por causa daqueles passageiros a mais, que às vezes morrem sem saber por quê. E com veículos terrestres, dá no mesmo? Sim. O perigo de acidente é também presente. Carros e motos (entre outros) são projetados para uma determinada capacidade de carregar peso e, vale lembrar, com vagas individuais. 180 kg são 180 kg, e 2 vagas são 2 vagas. Uma moto tem lugar para piloto e garupa. Se ela é capaz de conduzir até 180 kg, isso não quer dizer que possa levar 3 pessoas de 60kg haja vista que só há duas vagas. Em carros, há mais vagas e cada pessoa é uma pessoa. Criança é pessoa e merece seu espaço e cuidados. Muito cuidado com a superlotação, ela é passível de multas e traz riscos. 
 

VI - Não entregar ou facilitar o acesso a automóveis e ciclomotores a menores ou a pessoas não-habilitadas.

Guiar veículos automotores requer, dentre outras coisas, responsabilidade. Uma motocicleta, um carro, um caminhão pode se transformar em uma “arma” potencialmente destrutiva e letal nas mãos de alguém irresponsável. Não significa dizer que um habilitado seja – por conseqüência de ser habilitado – responsável. Essa virtude não se adquire em autoescolas. Porém, é numa delas que um indivíduo pode ser bem orientado sobre como conduzir um automotor e sobre a conduta adequada no tráfego. Emprestar o carro (por exemplo), permitir ou facilitar voluntária ou involuntariamente seu acesso a menores ou não-habilitados é passível, inclusive, de responsabilidade criminal. Num acidente com vítima fatal em que um menor conduz o veículo cuja chave o pai deixou sobre a escrivaninha, a responsabilidade é repassada ao pai ou tutor, que responderá judicialmente pelo feito de seu subordinado. Matar com um carro é crime e vai estar assim submetido à Lei.


VII - Dar preferências seguindo as normas quanto à precedência de direito.

Quem não gostaria de entrar num ônibus lotado, acompanhado da vovó, e notar que alguém gentilmente cedeu assento a ela? Quem não gostaria de, sendo a própria vovó, ter senha de atendimento preferencial num banco supercheio e ser atendido prontamente? Pois é! Esses são alguns dos direitos cuja essência se baseia na precedência. No trânsito se dá igual, e a dita precedência tem foco na segurança, como quase tudo em se tratando de trânsito. As regras do tráfego de automóveis, ciclomotores, veículos de tração humana ou animal e pedestres se baseiam – principalmente – na preservação da integridade física do ser humano, depois na dos animais e depois na preservação do patrimônio. O que leva a crer que é a vida que mais importa. Como em cada carro, cada moto, cada bicicleta, cada carroça tem uma vida no comando, a segurança precede todos os outros fatores. Assim, considerar o tamanho e a fragilidade do veículo ajuda a definir preferenciais. O perigo presente em determinadas situações estruturais da via também contribui para dizer quem tem direito de passagem. O pedestre precede o ciclista, que precede o motociclista, que tem direito à passagem quando vem um carro de passeio, que tem privilégios em relação à caminhonete, que é menor que um caminhão e tem direito à passagem; caminhões, Scanias, bitrens e assim progressivamente. O correto é dar preferência sempre, e se for à vida, aí sim você tem que abrir caminho e não ter pressa.
 

VIII - Não exceder a velocidade máxima permitida para a via.

Devagar também chega!” Um número cada vez menor de motorista pensa assim. A vida moderna trouxe muitas benesses e algumas mazelas para o cotidiano das pessoas. Uma benesse é a facilidade que a tecnologia proporciona. Está mais fácil aprender, ensinar, divertir-se e até conhecer o mundo está mais fácil. Porém, uma mazela: a corrida contra o tempo. As pessoas não param, não dão bom-dia nem carona. A pressa as guia, e o pé pisa o acelerador como se o mundo fosse acabar, e correm irresponsavelmente despreocupadas, esquecendo-se das pessoas ao redor, do perigo que causam. A engenharia de tráfego determina para as vias uma velocidade mínima e uma máxima. E não é à-toa. Cada lugar permite um fluxo e uma maneira de agir. São feitos estudos que avaliam o perigo de um determinado veículo trafegando em alta velocidade, e elas vão sendo descartadas até que o risco pareça aceitável. Desobedecer ao que indica tal placa é como assumir que não se está nem aí para o perigo, o de matar alguém.
 

XI - Facilitar o trânsito de automóveis e pessoas em frente a escolas e hospitais.

Algumas localidades requerem mais atenção de pedestres e motoristas. O trânsito constante em frente a escolas e hospitais pode trazer riscos à pessoa que por ali trafega. Daí a necessidade de mais e mais atenção e respeito às normas de segurança. Na frente das escolas há um entra-e-sai frenético nos horários de rush. São crianças saindo rapidamente para ir ao encontro de seus pais, sem ao menos observar a via. E pior, os pais, que deveriam primar pela preservação da integridade física de suas crias, são os mais imprudentes nesse momento. Mal saem de seus carros e já gritam pelos filhos ao longe para que vão até eles em meio ao trânsito. Sensato seria estacionar em local adequado, facilitando o fluxo dos que ali não param, e ir à procura de sua criança, que – pressupõe-se – é frágil, vulnerável, infantilmente desatenta e inconseqüente. A educação para o trânsito na frente das escolas deveria ser discutida pela própria escola, com os alunos em sala de aula e com os pais nas reuniões de pais-e-mestres. Isso amenizaria o problema e criaria uma consciência voltada à própria segurança, principalmente nas crianças. Em frente aos hospitais, por sua vez, a situação não se difere muito. Em vez de crianças, há crianças debilitadas, idosos e adultos sendo conduzidos aos leitos das enfermarias, há ambulâncias e carros apressados no resgate a feridos, que precisam de passagem; porém, que devem observar as normas de trânsito e garantir a integridade de quem conduz e dos que estão alheios a eles. Nos hospitais há sempre uma entrada de emergência por onde transitam pessoas desatentas, carros de socorro e etc. Atropelamentos, mais feridos e colisões podem ocorrer, e não é porque se está à porta de um pronto-socorro que a morte se esquece de você.
 

X - Manter em dia a manutenção e o abastecimento do automóvel que conduz.

Muita gente acha que, tão normal e perdoável quanto esquecer a carteira com documentos em casa, deixar o prato principal do jantar queimar no forno ou prestar contas ao Fisco na última hora, é negligenciar os cuidados imprescindíveis relativos à manutenção e ao abastecimento do automóvel. Afinal, se o carro quebrar em meio a um engarrafamento ou faltar combustível num cruzamento, basta deixá-lo lá e ir à procura de um mecânico, de um posto de combustível e está tudo bem. A lei não vê a situação assim, com tanta simplicidade. Os cuidados com o veículo são de responsabilidade do condutor, da mesma forma que todos os prejuízos acarretados pela falta deles. Um acidente provocado pela falta de freios, por exemplo, é creditado na “ficha” do condutor, que responderá por isso. O código de trânsito prevê punição severa em razão disso. É, portanto, importante revisar, vistoriar e certificar-se das boas condições do veículo antes de ir às ruas.
 

*        *        *
 

No Brasil, do Oiapoque ao Chuí, não há cidade que não apresente problemas no trânsito; mas, tampouco haja um único lugarejo cuja circulação viária não possa ser organizada com um pouco de disciplina, consciência das normas e educação. As SMTTs de todo o país têm trabalhado assiduamente para minorar as mazelas do trânsito, tentar harmonizar a circulação de veículos e de pessoas, além de diminuir os índices de acidentes. É sabido, pois, que tal como qualquer tipo de relação em que o ser humano esteja diretamente envolvido, o trânsito depende de algumas dicas como as aqui citadas e da influência de três palavras importantes: respeito, bom-senso e educação. Essa última é para este trabalho o foco principal. É isso!

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