segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Brasil... e o futuro de verdadeira hipocrisia.


Brasil... e o futuro de verdadeira hipocrisia.
Texto de Joel Carlos Santana Santos, 10/11/12.
Título: Kley Barros, 16/11/12.

 

Certa vez, durante a infância, ouvi que este lugar seria o país do futuro. O que jamais alguém se dignou a me dizer foi ‘quando iria chegar esse momento auspicioso (?)’ e ‘quem seria o responsável por situação tão alvissareira reservada à nação tupiniquim[1] (?)’. E até agora ela não deu o ar da graça!

2012... Século XXI, o incipiente Terceiro Milênio e todos os adventos, e após tanta previsão de que o mundo teria um fim (e vale lembrar: catastrófico), pouco se tem mencionado sobre quando a previsão de minha infância vai mesmo se concretizar. Um dia, na história dos Estados Unidos, lá também se apregoou destino semelhante; com o diferencial de que os yankees[2] trabalharam e construíram uma nação forte para seu povo. O Japão, de tantos terremotos e guerras, aprendeu a lidar com as intempéries de toda ordem, tornou-se um império tecnológico e sinônimo de superação. Com a China não foi diferente, com tantos problemas como falta de liberdade, superpopulação e fome, ela evoluiu, fortaleceu as várias instâncias de sua composição social e – consigo – a economia também. E o Brasil, onde vai parar? Onde está tal Brasil, o país do futuro?

Talvez não haja uma resposta para uma pergunta que ninguém sabe responder, ou quer fazê-lo. Ou, por certo, não haja como nem possibilidade para tal, dado o panorama de crise social, econômica (ou se diria, de divisão de renda), educacional-cultural, ético-moral e política, entre outras instâncias que dão forma à “cultura” brasileira. Um país que forma analfabetos funcionais[3] e se gaba disso com estatísticas que o empurram um passo à frente hoje e o mantêm parado e estagnado amanhã, não pode nem, tampouco, poderá concretizar de maneira satisfatória o suposto país da prosperidade. Uma sociedade que “presenteia” a grande massa com privações e consequentes limitações e aplica provas que só atestam a sua incompetência em educar, em nome dos ‘números’ (resultados virtuais) e em detrimento do desenvolvimento (efeito real), pode mesmo ser a nação do futuro? E sob qual ótica? O que esperar dele?

Certo como dois e dois são quatro é que a base do crescimento de toda e qualquer comunidade que respeita seu povo repousa sobre a ideia da valorização da Educação. Um poder estatal que não a privilegia, ‘depreda’ o futuro daqueles a quem governa e depõe contra as próprias necessidades e anseios[4], e contra as da gente do lugar. Como afirmou Philippe Perrenoud[5] (2005), “se não se levam em conta os limites da Educação e a variedade de suas expectativas, o hino à cidadania é uma dupla hipocrisia, um discurso oco [...]”. Não há cidadania sem um presente digno nem futuro promissor sem Educação (e sem o respeito relativo a ela); nem tampouco haja uma única potência que não tenha tido a preocupação com uma formação de qualidade para seus cidadãos para chegarem ao patamar em que estão ou colhido louros da omissão governamental. Não há ciência ou “prêmios-nobéis[6]” no mundo afora, que eclodiram da má-escolaridade ou do analfabetismo (incompetência do Estado em educar. Em nosso caso, é dever do Estado garantir boas escolas[7]), do ócio ou da falta de senso crítico.

A evolução de todas as coisas reside na mudança; e para melhor! Darwin[8] teorizou a evolução, e um ponto que chamou a atenção em sua pesquisa foi que parte dos seres aptos a evoluírem passou pelo processo de seleção (natural e inexorável), um processo que permite ao mais adaptado sobreviver e se perpetuar no meio. Com o brasileiro não vai ser diferente. Seremos selecionados, num mundo capitalista e duramente competitivo em que o menos adaptado é posto a escanteio. E, se as coisas não mudarem, se os anseios e as necessidades não respeitarem o que é lógico e, como o rio, correrem para o mar, ser o dito “representante” do futuro não passará de uma fantasia oriunda de uma ideia falaciosa. O Brasil, assim, saboreará o caos e a ruína.

É isso.



[1] Do tupi, alude ao grupo indígena residente em terras brasileiras no período pré-colonial (até o séc. XVI), com o qual a esquadra de Pedro Álvares Cabral se deparou, em 23 de abril de 1500.
[2] Palavra inglesa cunhada para referir-se historicamente aos Estadunidenses nativos (ou também conhecidos como (norte-)americanos). Em port. Ianques.
[3] Expressão que alude à situação do indivíduo semianalfabeto e que, com vistas à teoria moderna do “politicamente correto”, tem sido frequentemente adotada. O “analfabeto funcional” nada mais é do que alguém que foi alfabetizado; porém, que não é capaz de interpretar um texto longo e – para fins estatísticos – sabe ler e escrever.
[4] Todo país visa à sua melhor classificação nos índices qualificadores (a exemplo dos de desenvolvimento humano (IDH), da educação básica (IDEB), de qualidade de vida e etc.).
[5] Estudioso francês da Teoria da Educação. In: PERRENOUD, Philippe. Escola e Cidadania. O Papel da Escola na Formação para a Cidadania; trad. Fátima Murad. Ed. Artmed. Porto Alegre, 2005.
[6] Diz-se das personalidades que agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz, idealizado pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896) e entregue na Suécia.
[7] Constituição Federal de 1988, direito à educação (art. 6º.), art. 205 (e em diante... 227...).
[8] Charles Robert Darwin (1809-1882), naturalista e evolucionista inglês do séc. XIX.

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