Brasil... e o futuro de verdadeira
hipocrisia.
Texto de Joel Carlos Santana Santos, 10/11/12.
Título: Kley Barros, 16/11/12.
Certa
vez, durante a infância, ouvi que este lugar seria o país do futuro. O que
jamais alguém se dignou a me dizer foi ‘quando
iria chegar esse momento auspicioso (?)’ e ‘quem seria o responsável por situação tão alvissareira reservada à
nação tupiniquim[1] (?)’. E até agora ela não deu o ar da graça!
2012...
Século XXI, o incipiente Terceiro Milênio e todos os adventos, e após tanta
previsão de que o mundo teria um fim (e vale lembrar: catastrófico), pouco se tem mencionado sobre quando a previsão de
minha infância vai mesmo se concretizar. Um dia, na história dos Estados
Unidos, lá também se apregoou destino semelhante; com o diferencial de que os yankees[2]
trabalharam e construíram uma nação forte para seu povo. O Japão, de tantos
terremotos e guerras, aprendeu a lidar com as intempéries de toda ordem,
tornou-se um império tecnológico e
sinônimo de superação. Com a China não foi diferente, com tantos problemas como
falta de liberdade, superpopulação e fome, ela evoluiu, fortaleceu as várias
instâncias de sua composição social e – consigo – a economia também. E o Brasil, onde vai parar? Onde
está tal Brasil, o país do futuro?
Talvez
não haja uma resposta para uma pergunta que ninguém sabe responder, ou quer
fazê-lo. Ou, por certo, não haja como nem possibilidade para tal, dado o
panorama de crise social, econômica (ou se diria, de divisão de renda), educacional-cultural, ético-moral e política, entre outras instâncias que dão forma à “cultura”
brasileira. Um país que forma analfabetos funcionais[3] e se gaba disso com estatísticas que o
empurram um passo à frente hoje e o mantêm parado e estagnado amanhã, não pode nem,
tampouco, poderá concretizar de maneira satisfatória o suposto país da prosperidade. Uma sociedade que
“presenteia” a grande massa com privações e consequentes limitações e aplica
provas que só atestam a sua incompetência em educar, em nome dos ‘números’
(resultados virtuais) e em detrimento do desenvolvimento (efeito real), pode
mesmo ser a nação do futuro? E sob qual
ótica? O que esperar dele?
Certo
como dois e dois são quatro é que a base
do crescimento de toda e qualquer comunidade que respeita seu povo repousa
sobre a ideia da valorização da Educação. Um poder estatal que não a
privilegia, ‘depreda’ o futuro daqueles a quem governa e depõe contra as
próprias necessidades e anseios[4], e
contra as da gente do lugar. Como afirmou Philippe Perrenoud[5] (2005),
“se
não se levam em conta os limites da Educação e a variedade de suas
expectativas, o hino à cidadania é uma dupla hipocrisia, um discurso oco [...]”.
Não há cidadania sem um presente digno nem futuro promissor sem Educação (e sem
o respeito relativo a ela); nem tampouco haja uma única potência que não tenha
tido a preocupação com uma formação de qualidade para seus cidadãos para
chegarem ao patamar em que estão ou colhido louros
da omissão governamental. Não há ciência ou “prêmios-nobéis[6]”
no mundo afora, que eclodiram da má-escolaridade ou do analfabetismo
(incompetência do Estado em educar.
Em nosso caso, é dever do Estado garantir
boas escolas[7]),
do ócio ou da falta de senso crítico.
A
evolução de todas as coisas reside na mudança; e para melhor! Darwin[8]
teorizou a evolução, e um ponto que chamou a atenção em sua pesquisa foi que parte
dos seres aptos a evoluírem passou pelo processo de seleção (natural e
inexorável), um processo que permite ao mais adaptado sobreviver e se perpetuar
no meio. Com o brasileiro não vai ser diferente. Seremos selecionados, num
mundo capitalista e duramente competitivo em que o menos adaptado é posto a escanteio. E, se as coisas não
mudarem, se os anseios e as necessidades não respeitarem o que é lógico e, como
o rio, correrem para o mar, ser
o dito “representante” do futuro não passará de uma fantasia oriunda de uma
ideia falaciosa. O Brasil, assim, saboreará o caos e a ruína.
É
isso.
[1] Do tupi, alude ao grupo indígena
residente em terras brasileiras no período pré-colonial (até o séc. XVI), com o
qual a esquadra de Pedro Álvares Cabral
se deparou, em 23 de abril de 1500.
[2] Palavra inglesa
cunhada para referir-se historicamente aos Estadunidenses nativos (ou também
conhecidos como (norte-)americanos). Em port. Ianques.
[3] Expressão que
alude à situação do indivíduo semianalfabeto
e que, com vistas à teoria moderna do “politicamente correto”, tem sido frequentemente
adotada. O “analfabeto funcional” nada mais é do que alguém que foi
alfabetizado; porém, que não é capaz de interpretar um texto longo e – para
fins estatísticos – sabe ler e escrever.
[4] Todo país visa
à sua melhor classificação nos índices qualificadores (a exemplo dos de
desenvolvimento humano (IDH), da educação básica (IDEB), de qualidade de vida e
etc.).
[5] Estudioso
francês da Teoria da Educação. In: PERRENOUD,
Philippe. Escola e Cidadania. O Papel da Escola na Formação para a
Cidadania; trad. Fátima Murad. Ed. Artmed. Porto Alegre, 2005.
[6] Diz-se das
personalidades que agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz, idealizado pelo
químico e inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896)
e entregue na Suécia.